LVII

Quando me dispo da vergonha que não é minha
Mas que em mim foi cravada 
Pela navalha letal (e lenta) da tradição 

Quando me visto de mim, nos mais sórdidos detalhes
O que me resta?

Como é que tu me sabes?
Mulher, sereia ou punhal
Ou aquele momento úmido 
De êxtase sem qualquer conceito

Então mergulho no que posso ser
Submergindo em tudo que ainda desconheço 
Tateando cega com olhos que lentamente 
Se acostumam a ver

LVI

Cada minuto em silêncio
Gasto com poucas verdades 
E preso num mar de inquietação 

Consumido em cada instante 
Vidrado em pequenas promessas
De uma certeza que nunca
Se manifesta real

Tenho dentro do meu peito
Ondas revoltas que quebram
Em silêncio torpe
E em gestos crus

O olho que vê, mente
O que não enxerga
Faz parte desse temporal. 

XCXV

A pergunta também pode ser: Quem seria, Ou quem teria sido? Se o tempo como um líquido denso Escorre por entre os meus dedos, A pergunta tam...