LXXII - Inteiro

Um pedacinho de céu 
No gosto da tua boca
No cheiro da tua roupa
No toque da tua mão 

Um pedacinho de sol
Em cada fio da tua barba
Em cada riso que é casa
No verde mel dos teus olhos

Um pedacinho de chuva
No colo que me adormece
Na língua que me enlouquece
No beijo que tanto me diz

Um pedacinho de chão
Em cada abraço sincero 
Em cada refrão de bolero 
No mundo que eu sempre quis.

LXXI - Anacrônico

Ser, mas não pertencer
Sentir tanto, até rasgar-se
Sentir nada, questionar-se

Vermelho que destoa
Das entrelinhas cinzas
Às entranhas cruas

Verter palavras líquidas
Por bocas que se desabotoam

E lágrimas abstratas
Por olhos que se desenganam. 

LXX

Às vezes as palavras brotam
Às vezes elas silenciam 
Como se o peito alguma vez calasse
Mas nunca cala.

Tem dias que quero gritar
Tem dias que quero sumir 
Como se a dor alguma vez partisse
Mas nunca parte.

O silêncio não me é estranho
Como no escuro assim
Tanto me conheço 

A voz que me falta é vermelha
Latejante e úmida;
Covarde. 

Se esconde em vez de se exibir
Pois se exibindo, existe
E existindo, choca!

XCXV

A pergunta também pode ser: Quem seria, Ou quem teria sido? Se o tempo como um líquido denso Escorre por entre os meus dedos, A pergunta tam...