LXXX - História sem fim

Hoje ao ouvir à conclusão de mais um dos nossos epílogos 
Sinto não que te perco, mas que te encontro 
E que nos pertencemos 
Na vastidão daquilo que se faz eterno por ser abstrato.
Melancolia de um luto breve;
Flutuo na ideia de que nesse mundo de cíclicas metamorfoses 
Nada se perde, tudo nos guia
Na direção de novos prólogos 
Da mesma história que se transforma
Contando versos antigos 
Em novas colocações.

LXXIX - 06/06/19

Eu vi em teus olhos calmos
Tudo que eu buscava

Vi tua pupila imensa 

Abraçar meu corpo inteiro


Senti tua mão em minha pele

Como um total reencontro

E tua língua despindo a minha

Como se sempre o fizesse


Como se a minha estrada

Fosse tua conhecida 


Como se com teus olhos 

De pupilas imensas

Visse minha alma inteira.

LXXVIII

O que eu poderia dizer
Que você já não saiba?
Que meu corpo arde
Lembrando teu gosto 
Que meu peito vibra
Lembrando teu toque
Que o encaixe do teu rosto
No meu pescoço é perfeito
E a moldura dos teus lábios 
Nos meus é a verdade.
O que eu poderia saber
Que eu já não saiba?  

LXXVII - Eu, tu, nós

Numa noite vejo teu rosto 

Sinto teu cheiro, rio em teu riso 

Derreto em teus dentes, lindos 

Me pego olhando de perto, tão perto

O sinalzinho na ponta do teu nariz 

E de repente, você é minha 

Sem nunca deixar de ser sua 

(E estou feliz) 


Noutra noite caio em teus braços 

Nas mãos que me encontram há tanto tempo 

Em tantas vidas 

Vejo teu olho, sou tua presença 

Me pego notando os fios da tua barba

E de repente, sou tua 

Sem nunca deixar de ser minha 

(E estou feliz) 


Hoje à noite vejo você 

Tão real ao meu lado 

Sorrindo em me ver

Sinto tua paz, vivo teu jeito 

E de repente, estou feliz, e só. 

LXXVI - Ouroboros

É difícil se esconder de si 

E fugir do seu próprio destino

Se é que o destino existe

Se é que não são nossos passos

Que definem o nosso caminho

É duro só saber de si 

Até o ponto em que se confunde 

Até a hora em que se esvai 

Toda e qualquer sobriedade;

Quando bêbada e estremecida 

Não de algo tão vil quanto o mundo 

Mas da doce e sutil nostalgia 

Me desencontro em passados infinitos 

Que nunca sequer existiram.

É estranho saber tão pouco 

E ao mesmo tempo, entender tudo. 

LXXV

Me pergunto quem eu era 

E por onde andei enquanto fui.

Me convenço com pensamentos vagos

De que fui quem poderia ser 


Me digo e repito e retorno 

E teimo em dizer que minto.

Abraço estranhas sensações 

Que volta e meia me assombram 

Em uma esquina casual

Em um deslize sutil 


Luto com desejos feios 

Que eu mesma pinto 

Eu mesma vejo

E eu mesma julgo. 


Me cubro de todas as cores 

Em arco-íris solitários 

Que saltam aos olhos nos dias 

Em que a chuva paira no céu cinzento 

E me cubro de cinzas, em concreto gelado

Nos dias em que o sol se despe.

XCXV

A pergunta também pode ser: Quem seria, Ou quem teria sido? Se o tempo como um líquido denso Escorre por entre os meus dedos, A pergunta tam...