LXXIII

Acordei de manhã com um presságio dolorido, que se desmanchou feito brasa na ponta da minha língua. 

Ter sonhado daquele jeito foi a coisa mais estúpida que eu poderia fazer. Em todos os cantos teu cheiro me envolvia e me chamava.

Passei o resto do dia remoendo a lembrança que me escapava, a sensação conhecida que nunca experimentei. 

Naquele fim de tarde com sol escaldante, o calor parecia fazer tudo derreter. O céu, os prédios, as pessoas e seus semblantes mal humorados que prediziam uma vida de insatisfações. Em uma esquina ardente, eu passava o tempo alheia ao que o mundo dizia. Desde que percebi que não falávamos a mesma língua, comecei a entender e a recriar a mecânica da abstração. 

Fingindo completa naturalidade, passei por entre corpos que se balançavam ao som de um tédio quase palpável. 

Meu olhos pesados pareciam feitos de chumbo. Minha língua dormente desaprendera a conversar.

Escrevi em todas as paredes, com olhos cansados, as letras que me fariam te encontrar novamente naquela noite cinzenta e quente.

Aliás, eram cinzas as palavras que se arrastavam pelos meus lábios sem muito sentido, enquanto eu tentava conversar com qualquer pessoa que não entenderia metade daquilo que eu queria dizer. 

XCXV

A pergunta também pode ser: Quem seria, Ou quem teria sido? Se o tempo como um líquido denso Escorre por entre os meus dedos, A pergunta tam...