XCXV

A pergunta também pode ser:
Quem seria,
Ou quem teria sido?
Se o tempo como um líquido denso
Escorre por entre os meus dedos,
A pergunta também pode ser:
Quem ainda serei?

XCXIV

Penso que quero escrever
Como se escrever fosse o verbo
Que salvaria o meu corpo
E salvaria minha alma
Do deus da carnificina.
Penso que em cada linha
Eu verteria minha dor latente
Com tanta força
Com tanto jeito
Que seria o papel, corpo
E o corpo, verso
Num verbo intenso, 
Poema eterno. 

XCXIII

Sóbrio de mim mesmo 

Ébrio desperdício 


Vivo, mas enfermo

Eu, do fim ao início 


Começo e logo não vejo 

Ardiloso artifício 


Termino e nunca começo 

Beira do precipício. 

XCXII

Se você fosse eu

Por um dia

Ou por uma noite 


Seria quem tanto 

Conhece

Por dentro 


Seria o que imagina,

E seria também 

O que desconhece.


Se você fosse eu 

Por mil anos 

No espelho veria 


Os seus próprios olhos 

Castanhos


Se fosse o que não deseja 

Seria o que não resiste


Se você fosse eu por um dia 

Se fosse eu, quem seria?

XCXV

A pergunta também pode ser: Quem seria, Ou quem teria sido? Se o tempo como um líquido denso Escorre por entre os meus dedos, A pergunta tam...