CII

Gritos surdos e verbos

Que espetam a garganta,

Uma luz sequestrada 

Pela impiedosa escuridão.


Cegueira branca,

Limbo de não ser 

E de não alcançar 

O que é belo e distante.


Abstrato e impalpável,

Evanescente no clarão 

Que a realidade persegue,


Está o sonho 

Que eterno e inadiável 

Nos conduz à arte. 

CI

Tenho um buraco no peito
Uma cortina fosca nos olhos 
E um eterno silêncio no ouvido. 

Tenho um segredo comigo.
Um segredo que não existe 
E que a ninguém aflige,

Senão a mim. 
Tenho uma solidão dormente
E membros que formigam;

Tenho os ombros pesados 
E um sono infinito 
Que não me deixa dormir.

Tenho fome de tudo 
E nenhuma vontade de comer.

C

Meu corpo acima do céu

Meu cérebro insone palpita,

Um verbo quer romper o véu 

Mas o gênio com tanta preguiça 


Acha a lâmpada confortável

E se enrola feito serpente,

Vê a vida tão inabitável 

E adora seus membros dormentes.


Seu corpo inteiro é memória,

Massa flácida e angustiante,

Navega a incerteza do sonho 


E evita o mundo adiante.

Prefere o arcabouço enfadonho 

Do que a imensidão ilusória. 

CIII

O travo da boca reflete   O que se aprisiona no peito.  Não nomeio, Não reflito, Não entendo. Há um poço que arde em mim. Há um lodo de pala...