XII

Um dia esta boca, como quem nada espera,
Há de engolir-te inteiro, espinho e tudo.
Um dia teu corpo será o veneno,
E o mundo, pequeno silêncio,
Nostalgia a digerir-te, úmido e frio.
Como a saliva e outros tantos remédios,
De sangue teu, abocanhando a dor
Que nos cozinha à fogo lento, por vezes
E por vezes mesmo, me devora vivo.
Um dia teu pranto será esquecido,
E como quem nada teme, tua carne doce
E insensível, há de abrir-se para o eterno sono.
Um dia, em breve demora, esta boca
Há de amordaçar a tua, rígida e fria,
E a vida, cruel predadora,
Nostalgia a rir-se de ti, infando alimento.

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